quinta-feira, 12 de abril de 2012

Encaixotado

- Péééé, péééé
8h da manhã. Em vez de ser acordado por uma música do Chico, como quase todos os dias, fui sacudido da cama pelo som agudo da campainha de casa. Eram os empacotadores da Botafogo Transportes, que vieram encaixotar parte da minha vida.
Depois de meses esperando a hora de partir, a manhã de hoje trouxe a realidade à minha porta. Enquanto os funcionários da empresa de mudança embalavam meus livros, minha TV, meu vídeo-game e as muitas cachaças que levarei comigo, a hora do embarque parecia cada vez mais próxima.
É engraçado como algumas coisas na vida só parecem se transformar em realidade em momentos simbólicos, e a manhã de hoje foi cheia deles.
Assim que saí da cama, D. Maria, nossa faxineira, me perguntou entristecida: “você está de mudança?”. Eu respondi de forma relutante, com um “ainda tenho algum tempo por aqui”, mas de fato estou me mudando. Depois de forçar uma continha no meu intelecto matematicamente deficiente, me dei conta de que hoje, dia 12/04, estou a apenas 12 dias de me despedir do Brasil por um bom tempo.



Outro evento interessante da manhã de hoje foi a interação com os botafoguenses. Enquanto embalava a mudança, um dos empacotadores me perguntou, “vai pra longe, né?”, ao que eu respondi com um singelo “é...”. Terminado o serviço, o pessoal foi embora e me deixou cercado de caixas por todos os lados. Fiquei algumas horas sufocado por esse cenário, até que o caminhão chegou, os funcionários enfiaram tudo num contêiner e o motorista partiu, não sem antes me desejar uma “boa viagem”.
Este dia foi repleto, enfim, de momentos que marcarão minha vida e minha carreira. Não tenho mais casa, já que meus pertences estão todos em trânsito, quase não tenho mais tempo, e o pouco que resta vai ser gasto em despedidas.
“Eu acho que uma reflexão sobre a sensação de ver pessoas empacotando suas coisas pra mudança daria um ótimo post”, alguém me disse. De fato, a sensação é estranha e tenho uma longa estrada até me acostumar com ela, mas ver minhas coisas partindo só me fez perceber uma coisa: duro mesmo é deixar pra trás o que fica.

2 comentários:

  1. A primeira coisa que soube no dia de hoje era que você já tava do outro lado do Atlântico. Não dá pra descrever o que tô sentindo.
    Que esse tempo que teremos que ficar separados passe muito rápido.
    Te amo.

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  2. Ortega! Vi agora no Twitter que você tem um blog. E poxa, você escreve muito bem. Não vou dizer que não sei como é essa estranha sensação de ver tudo o que é seu em caixotes - já passei por isso mais do que eu deveria, talvez, hehehe. Por outro lado, eu queria dizer que admiro muito você pela coragem. Tenho certeza que você deve ter ouvido muitos "nossa, mas África?" Saiba que muitas pessoas também pensam "nossa, a África!" :)

    Talvez, para fins de carreira, essa experiência não venha a contar tanto quanto um posto A contaria. Se me permite dizer, eu acho que você fez uma escolha que vai contar na sua biografia, mais do que em seu currículo. Vou adorar se você vier nos contar um pouco do que está aprendendo aí - tanto do que aprender sobre o Zimbábue, quanto sobre você mesmo!

    Um abração,

    Laura

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